Numa altura decisiva para Portugal os protagonistas políticos não estão à altura e demonstraram 4.ª feira que o que os move não é, certamente, o interesse nacional.
O meu objectivo com o post anterior era salientar a importância que a confiança tinha nas pessoas (de facto, não são apenas os mercados que exigem confiança, mas as pessoas precisam ainda mais dela). Num momento de crise grave, por que Portugal atravessa, verificamos que os políticos não estão à altura. As pessoas não olham actualmente para nenhuma instituição da vida política com confiança. Há muito que o Executivo perdera confiança com várias contradições. No dia de ontem houve mais uma: Bruxelas tem dúvidas acerca do valor real do défice português de 2010 (sendo certo, porém, que o défice real, contabilizado com todas as empresas participadas do Estado, é muito superior a 8%, valor que Bruxelas pensa que terá sido o nosso défice no ano passado). Além do Executivo, também a Assembleia da República não é respeitada por aqueles que deviam ser nossos representantes e se aproveitam dos lugares que ocupam, não para defender o interesse nacional, mas para fazer um triste espectáculo de campo de batalha. Contrariamente, a Presidência da República parece mostrar algum alento nos portugueses, muito embora o seu poder, embora decisivo nalgumas situações, não seja perceptível noutras. Confiança. É este o predicado que os representados exigem aos seus representantes e a quem os governa. Um “contrato social” tem de pressupor que a verdade é dita e que as pessoas, conhecedoras das propostas, avaliá-las-ão, tendo em vista o melhor para o interesse nacional (a tal vontade de todos, que era racionalizada, de acordo com Rousseau). O Parlamento seria, assim, a Casa da Democracia, “um pequeno mapa, que representava a Nação”. Infelizmente não é desta forma idílica que hoje encaramos o Parlamento e o dia de 4.ª feira foi mais um em que pudemos comprovar que os partidos políticos não estão, efectivamente, comprometidos exaustivamente com Portugal. Desde o dia 27 de Setembro de 2009 que os partidos estão interessados em novas eleições. Primeiro houve conflitos internos dentro do maior partido da oposição e, de acordo em acordo, uma coisa era certa: alguém ia pisar o pé a alguém, ou alguém fingiria ser pisado durante a dança do tango. É com muito desagrado que vejo que, uma vez mais, os nossos dirigentes não se mostram capazes de nos liderar. Se me perguntassem se nutria simpatia ou, mais importante, se considerava que o nosso Primeiro-Ministro era uma pessoa capaz, eu responderia negativamente, no entanto, discordo em absoluto com o que aconteceu na Assembleia da República. Reforçava eu que nós estamos a passar por várias crises, há muito tempo, que há muito tempo que todos estão distraídos a jogar jogos de poder, contudo seria altura de ultrapassarmos uma fase difícil. Como? Através da união e confiança. Não foi isso que aconteceu. Sócrates negociou um (novo) plano de austeridade (o que, mais uma vez reforça que não havia um plano a longo prazo para o país) com a Comissão e com a Chanceler Alemã, sem fazer esforços de negociação cá dentro. Os partidos da oposição aproveitaram a deixa e votaram no Parlamento o fim deste novo PEC. Todavia, este não é verdadeiramente “um adeus, mas antes um até já”, porque, sejamos sinceros, todos já percebemos que não há coragem política de nenhum partido do arco da governação de fazer reformas estruturais importantes, acabando com situações de privilégios injustificados. Falo, entre outras coisas, das celebérrimas parcerias público-privadas. Desta forma, a única solução é atacar os anónimos, aqueles cujos gritos se podem ouvir na rua, em manifestações algumas vezes no ano, mas que (e que estranho que é!) raramente fazem cair um Governo (embora quando o fazem essa queda marque o fim de um ciclo ou Regime), ao contrário de outros tantos interesses escondidos (falo, evidentemente dos grupos de pressão) que influenciam decisivamente a actuação de um qualquer Governo, de modo que este, se atentar nos seus privilégios cai. Daí que o PEC 4 seja um “até já”. Não tenho dúvidas que haverá redução das pensões, despedimentos mais fáceis, com indemnizações mais baixas. Tenho dúvidas que desta forma se verifique um saneamento da crise. Pelo contrário será natural que o se dê um maior potenciamento. Infelizmente, vejo que não tenho políticos capazes de exercer responsavelmente as suas funções. Como salientava, o nosso Primeiro-Ministro não é competente, mas a verdade é que eleições, neste momento, não são a melhor solução, precisamente porque nada vai mudar no panorama nacional. Tenho noção que estou pessimista, mas não vejo no horizonte possibilidades que me animem. Não sei, se houver eleições (algo que não me agrada) quem as vencerá, mas não há dúvidas que o partido que as vencer não terá maioria absoluta. Ora, sendo os protagonistas os mesmos irresponsáveis dificilmente se entenderão. Tudo estaria muito bem, não fosse o país estar em jogo. A conclusão que consigo tirar é que estamos a seguir um caminho muito perigoso. A irresponsabilidade, a prazo, tem custos muito elevados. Verifico, hoje, que temos um Primeiro-Ministro que potenciou uma demissão e um Parlamento que aproveitou a deixa. Questão: Sendo os protagonistas os mesmos, como é possível gerar-se confiança nas pessoas? Como é possível unirem-se para ultrapassarem a crise? O meu desejo era que, verdadeiramente, o interesse nacional imperasse e os actos de amor à Democracia não se ficassem pelas palavras. Essas também a 1.ª República as tinha.
Nota final: Hoje a SIC entrevistou pessoas pelo país, de modo a tentar aferir acerca da sua percepção sobre estes acontecimentos. A maior parte das pessoas referiu precisamente um descrédito total, havendo, inclusivamente, quem pedisse já a intervenção de um Salazar. É, definitivamente, caso para os políticos porem as mãos na consciência.