sexta-feira, 1 de abril de 2011

"Estamos a viver um filme de terror em que o drácula culpa a vítima"

No dia em que os juros da dívida pública quase chegaram aos 10% nos títulos a cinco anos, já nos apercebemos que a questão da vinda do FMI não é "se", mas "quando" chega. Aqui está o comentário do Doutor Luís Campos e Cunha, o 1.º Ministro das Finanças do 1.º Governo de Sócrates, que se demitiu por discordar com os projectos de Grandes Obras Públicas, que o Executivo tinha intenção de levar avante.


Campos e Cunha, antigo ministro das Finanças de José Sócrates, diz que "esta crise governamental foi desejada e planeada pelo Governo".

O professor universitário escreve hoje no Público que "há várias semanas que o Governo adivinhava o final desta semana e antecipou-se".

Diz Campos e Cunha que "como o Governo sabia antecipadamente o que iria acontecer às contas de 2010 e quis precipitar a crise antes do descalabro final; assim, negociou e ajustou um conjunto de medidas (vulgo PEC-4) apenas e só com os nossos parceiros europeus. Nesse pacote estava tudo o que o PSD tinha vetado em negociações anteriores (PEC-2 e PEC-3). Apresentou essas medidas, num primeiro momento, como inegociáveis. O PSD, orgulhoso da sua posição disse um "não" também inegociável. No dia seguinte, o Governo, dando o dito por não dito, afirmou-se disposto a negociar. Mas o PSD caiu que nem um patinho e o Governo caiu como o próprio queria e planeou".

A partir de agora, continua Campos e Cunha, para Sócrates as culpas são do PSD: "A queda brutal dos ratings, a subidas das taxas de juro, o descalabro das contas públicas serão tudo culpa do PSD (...) que vai passar o tempo a justificar-se, ou seja, perdeu a discussão. Pode não ter perdido as eleições, a ver vamos, mas pode perder a maioria absoluta".

Para o antigo ministro de Sócrates, "estamos a viver um filme de terror em que o drácula culpa a vítima de lhe sugar o sangue. Estamos a viver o malbaratar dos dinheiros públicos durante muitos anos, com especial relevância nos últimos cinco. Estamos a sofrer as consequências da dita política keynesiana de 2009 que teria permitido que a recessão fosse apenas de 2,6%. Muitos defenderam tal irracionalidade, mas também houve quem chamasse a atenção da idiotia de tal abordagem numa pequena economia, sem moeda própria e sem fronteiras económicas".

"A situação económico-financeira é de tal descalabro que não pode haver eleições antecipadas sem haver uma crise política, económica e financeira de acordo com vários ministros, começando pelo primeiro. É a constituição e a democracia que está em causa", alerta o mesmo responsável.

Campos e Cunha deixa um alerta aos portugueses: "tudo isto tem um rosto e um primeiro responsável. Lembrem-se disto no dia do voto e não faltem, nem que seja para votar em branco", conclui.

Retirado do Diário Económico