sábado, 1 de novembro de 2008

Retrospectiva da Campanha (3) - Ponto de Situação

Esta sondagem da CNN mostra que, à partida Obama terá cerca de 203 votos eleitorais "definitivos", mais 88, de estados que ainda não estão seguros. Assim, a previsão da CNN é uma vitória de Obama, se as eleições fossem até hoje, com cerca de 291 votos eleitorais.
Muito tempo passou desde o anúncio de candidatura de ambos os candidatos (republicano e democrata). Muito provavelmente, há 2 anos, ninguém esperava que Obama, com a sua intenção de mudar Washington conseguisse a nomeação democrata. De facto, todos apontavam para a experiente Hillary Clinton que, depois, se viu forçada a apoiar Obama e fazer campanha por ele. Na verdade, creio que as dívidas que contraiu devido à sua campanha são as grandes responsáveis por hoje Obama ter Bill e Hillary a fazerem campanha por ele.
Do lado republicano, a certa altura, também ninguém acreditava que McCain conseguiria a nomeação. A sua campanha estava a actuar à "maneira Bush", sem cuidado nenhum nos gastos que ia fazendo. Para manterem em funcionamento o "Straight Talk Express" (autocarro que ia em direcção às pessoas, para lhes dar a conhecer o programa eleitoral) gastavam 10 mil dólares por dia. O autocarro estava equipado com tudo e mais alguma coisa, incluindo plasmas. Resultado: a certa altura já quase não tinham dinheiro. McCain conseguiu recuperar e conseguir a nomeação. Esta foi mais uma prova, além do escândalo de Keating, que McCain conseguia sobreviver aos momentos mais adversos. Apesar disso, houve um erro de cálculo de McCain. O sendador do Arizona desejava ser Presidente dos EUA. Em 2000 perdera a nomeação para Bush e, desde então, apoiara a maioria das medidas do executivo. Via-se como o sucessor de Bush. Neste contexto, a estratégia democrata de comparar McCain a Bush é bem conseguida. O erro de McCain residiu, a meu ver, precisamente na premissa que Bush seria um Presidente amado ou que, de alguma forma, deixaria saudades. Assim, seria necessário haver alguém que fosse como Bush, para o substituir.
O que os americanos desejam, porém, não é mais do mesmo. Bush apresenta uma taxa de aprovação muito baixa. A maioria dos americanos não gostou deste últimos 8 anos e, desse modo, a necessidade de mudança veio com Obama. Será, no entanto, legítimo questionarmo-nos sobre o motivo pelo qual Kerry não foi eleito em 2004. Na verdade, o candidato democrata liderava as sondagens até haver o que muitos designam de "surpresa de Outubro". É quase como que algo que tem de acontecer sempre e que muda a intenção de voto dos eleitores. Disperções à parte, bin Laden divulgou um vídeo, em que dizia que a segurança dos americanos estaria nas suas mãos. Ora, a segurança nacional, que não era o ponto-chave da campanha, passou, subitamente, a ser. Bush vence.
Já não é possível uma "surpresa de Outubro". Se "tem de haver" surpresas em Outubro em todas as eleições presidenciais, essa "surpresa" foi a crise financeira. Foi a partir desse momento que Obama passou a liderar mais confortavelmente as sondagens.
Neste momento, a campanha democrata está a viver um sentimento de sucesso: Obama lidera, por larga margem nas sondagens e a perspectiva de o partido liderar no Congresso, por uma margem superior à das eleições intercalares de 2006 é bastante superior. Com todo o financiamento da campanha democrata, o senador do Illinois, dá-se ao luxo de investir em praticamente todos os estados, incluindo os tradicionalmente republicanos ou mesmo o estado dos seu adversário, o Arizona. McCain, por consequência, vê-se obrigado a defender as hostes republicanas ficando, por isso, com menos dinheiro para investir em publicidade nos estados que tanto podem ser azuis, como vermelhos.
Este facto não impede o Senador do Arizona, habituado a algumas vicissitudes (como sejam o facto de, perante a falta de financiamento da sua campanha nas primárias, ter tido de viajar em classe económica) de fazer campanha em estados que espera vencer: Ohio e Pennsylvania. Para se ter uma noção do quanto estes estados são importantes para os republicanos, repare-se que, nos últimos dias, McCain e Palin estiveram em campanha nestes 2 estados cerca de 24 vezes! O ticket democrata ficou-se pelas 7. McCain diz que os resultados se fazem sentir nas sondagens, com uma aproximação ao Senador de Illinois. Neste contexto de final de campanha é necessário repetir as ideias, frisá-las, uma vez mais, não vá o adversário confundir os eleitores. Com efeito, McCain diz que tanto Obama, como ele próprio discordam de Bush, mas Obama pretende aumentar os impostos e McCain reduzi-los. Obama responde que ninguém verá um aumento dos seus impostos, a não ser que tenha rendimentos, por ano, superiores a 250 mil dólares.
Além da reiteração da mensagem é necessário encontrar apoiantes convictos (conhecidos ou não). Ambos podem ajudar: os primeiros indo a comícios, pedindo pelo voto dos eleitores (acontece, no caso democrata, com Hillary Clinton, Bill Clinton ou Al Gore e, no caso republicano e mais recentemente com Schwarzenegger, em campanha com McCain no Ohio); os segundos, nas sedes de campanha de cada estado ligam para casa das pessoas e bendizem o candidato que apoiam, apontando farpas ao adversário. Ao mesmo tempo, o apoio dos jornais também se revela de extrema utilidade e, às vezes, quando o apoio é de pessoas ligadas ao campo adversário, o dia até é melhor passado (Colin Powell apoia Obama, mas para o caso de não chegar, para que as pessoas fiquem convencidas, há muitas celebridades que também o apoiam, desde algumas bem tidas em conta, como Oprah, até outras, cujo apoio é de desconfiar, caso de Lohan).
Assim, neste últimos dias, o que mais interessará será mesmo a questão económica, com Obama a liderar. Penso que é cedo para os democratas festejarem e será bom que não deitem os foguetes antes da festa, mas, a meu ver, esta eleição ficará na nossa memória, como o embate entre os homens que ninguém esperava que conseguissem a nomeção: o que renasce das cinzas e o que supera as espectativas. Vamos ver como ficará marcado o legado do vencedor na Casa Branca.

Recomendo a visualização da reportagem da CBSnews.


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